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Entrada da filha de Serra na lista do mafuá de Mauá amplia o roteiro do programa que tem tudo para virar campeão de audiência

Acossada pela descoberta de que outros quatro tucanos ligados a José Serra foram vítimas da mesma violência imposta a Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, a direção da Receita Federal resolveu descobrir que mais de 130 contribuintes sem filiação partidária tiveram o sigilo fiscal quebrado ilegalmente pelo infatigável computador do mafuá de Mauá. Se […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h23 - Publicado em 31 ago 2010, 22h08

Acossada pela descoberta de que outros quatro tucanos ligados a José Serra foram vítimas da mesma violência imposta a Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, a direção da Receita Federal resolveu descobrir que mais de 130 contribuintes sem filiação partidária tiveram o sigilo fiscal quebrado ilegalmente pelo infatigável computador do mafuá de Mauá. Se ninguém nessa multidão foi estuprado por motivos políticos, raciocinaram os companheiros do Fisco, está claro que não houve motivação política no estupro dos aliados do candidato presidencial da oposição.

Parece piada? É só mais uma evidência de que a mente criminosa fica bem menos inventiva quando dispensada do medo da cadeia, reafirmou a discurseira do corregedor da Receita, Antonio Carlos Costa D´Ávila: “Foi identificado um esquema de compra e venda de informações por meio de propina”. E daí?, berraria de volta o Brasil se, como estranhou o juiz federal Antonio Carlos Macedo da Silva no despacho em que autorizou o acesso de Eduardo Jorge às investigações da Receita, não “parecesse conviver com tranquilidade com delitos gravíssimos”.

O que tem a ver uma coisa com outra?, teria ouvido em seguida o corregedor se o barulho do camburão estacionando em frente sobressaltasse também figurões com culpa no cartório. Ainda que a lista dos 138 estuprados fosse verdadeira, serviria apenas para acrescentar que o crime se consumou numa repartição da Receita reduzido a casa de tolerância fiscal. “Enrolação”, resumiu Eduardo Jorge, secretário-geral da Presidência da República durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, ao ouvir o palavrório de sexta-feira. Deve ter repetido o sucinto parecer nesta terça-feira, ao topar com o relatório de cinco páginas encaminhado pelo corregedor ao Ministério Público Federal.

Os 138 estuprados caíram fora, junto com o balcão de compra e vendas anabolizado por propinas milionárias. Em contrapartida, entrou na relação das vítimas a empresária Verônica Serra, filha do candidato à Presidência. Por conta desse estupro, Lúcia de Fátima Gonçalves Milan engrossou a lista de funcionárias suspeitas que já incluía Adeildda Ferreira, dona do computador, Antônia Aparecida Rodrigues, dona da senha, e Ana Maria Caroto Cano, cedida à agência especializada em estupros pelo Serviço Nacional de Processamento de Dados (Serpro). É delas que o corregedor está falando quando desconfia da “existência de conduta que, em tese, poderia configurar prática de crime comum pelas servidoras”.

Nem mesmo a entrada de Verônica Serra na lista dos afrontados induziu a direção da Receita a desistir da versão de que a invasão foi arquitetada por uma quadrilha de criminosos comuns que lucra com o comércio de informações reservadas. Chega de enrolação, gritariam todos os 200 milhões de brasileiros se tantos não estivessem emudecidos pela abulia. Isso não impedirá que o país que presta siga exigindo a identificação dos executores e, sobretudo, dos mandantes de um crime escancaradamente vinculado a interesses políticos, partidários e eleitorais. A trama foi desencadeada em 8 de outubro de 2009. Precisa ser elucidada antes de comemorar o primeiro aniversário. Antes do primeiro turno da eleição.

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Faz quase um ano que, em apenas 16 minutos, foram sucessivamente devassadas as declarações de renda de Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso, Gregório Marin Preciado, marido de uma prima de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil e tesoureiro das campanhas de Serra e FHC, Ronaldo de Souza, ex-sócio de Ricardo Sérgio, e Eduardo Jorge.

Em maio, como recorda a edição desta semana, VEJA descobriu que Luiz Lanzetta, um jornalista a serviço do comitê organizador da campanha de Dilma Rousseff, cuidava da montagem de um dossiê contra José Serra. A reportagem revelou que o papelório já havia incorporado as informações obtidas ilegalmente no mafuá de Mauá. Para descobrir quem vendeu e quem comprou ou tentou comprar, basta a quebra do sigilo telefônico de meia dúzia de personagens. O resto é enrolação, já disse Eduardo Jorge.

Ele sabe com quem está lidando. Quando estava no Palácio do Planalto e o PT na oposição, o secretário-geral do governo FHC foi obsessivamente alvejado com denúncias fantasiosas pelo finório Luiz Francisco de Souza, procurador-regional da República e procurador-nacional do PT. No ano passado, o Conselho Nacional do Ministério Público reconheceu formalmente que Eduardo Jorge, enfim absolvido das acusações sem fundamento, foi perseguido por motivos políticos e condenou o perseguidor a 45 dias de suspensão. Menos de 12 meses depois de oficialmente inocentado, soube que os pastores da infâmia atacaram de novo, agora entrincheirados no coração do poder. Igualmente perseverante, retomou a briga decidido a vencer pela segunda vez.

Oferecido a um produtor de seriado policial americano, o caso do estupro fiscal seria recusado por falta de mistério: qualquer espectador identificaria os bandidos em menos de 10 minutos. Basta descobrir de que modo as informações confidenciais foram parar num dossiê planejado por gente a serviço do PT. Pelo mesmo motivo, a história pode render uma série de programas muito atraentes no horário eleitoral da oposição. Tem tudo para transformar-se num campeão de audiência.

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