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Deonísio da Silva: Onde Judas perdeu as botas

Judas era tesoureiro da campanha de Jesus e provavelmente calçava sandálias quando ceou pela última vez com o Senhor

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h51 - Publicado em 4 jun 2017, 11h23
(Reprodução/Reprodução)

Não se sabia, mas agora se sabe: Judas perdeu as botas em Curitiba, no bairro de Santa Cândida, na sede da Polícia Federal.

Alguns dos novos judas calçam as sandálias da humildade para ir lá, mas outros vão de botas, como fez o padroeiro de todos eles ao perdê-las. Talvez pensem que o Inferno fica bem pra lá do fim do mundo e, como a viagem pode demorar, é melhor ir de botas.

O bairro homenageia uma santa italiana, etnia de muitos habitantes, não apenas de Curitiba, mas de todo o Paraná, como é comum no Sul do Brasil. O juiz Sérgio Moro, referência solar da Operação Lava a Jato (batizada pela mídia Lava-Jato e Lava Jato) também descende de italianos do Vêneto. Dada sua biografia impoluta, será sempre marcante que ele tenha condenado tantos criminosos encarcerados por algum tempo num bairro chamado Santa Cândida e tenha punido candidatos, eleitos ou não.

O étimo de cândida é o mesmo de candidato, o Latim candidus, branco, puro. Na Roma antiga, os candidatos a funções públicas vestiam-se de branco para vincular suas figuras à ideia de pureza e honradez que a cor branca sempre teve.

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Já o nome da rua onde fica a Polícia Federal expressa a gratidão dos curitibanos a uma professora chamada Sandália Monzon. As sandálias da humildade serão sempre mais confortáveis do que as botas da vaidade e da prepotência.

De todo modo, a expressão “onde Judas perdeu as botas” surgiu da tradição oral, que, em vez de tirar, sempre acrescentou alguma coisa às histórias narradas pela Bíblia, de tal modo que curiosas informações adicionais dão conta de que Matusalém morreu afogado aos 969 anos. Deduziram que, com a idade que tinha, estava vivo quando sobreveio o Dilúvio. A parteira do nascimento de Jesus, que ninguém sabe quem foi, recebeu o nome de Salomé. Os ladrões crucificados com Jesus também receberam nomes: Dimas era o bom; Gestas era o mau. As botas de Judas representam outro destes acréscimos.

Judas era tesoureiro da campanha de Jesus e provavelmente calçava sandálias quando ceou pela última vez com o Senhor, completando o número 13 à mesa, que já era o número do azar, mas cuja má fama foi acentuada desde a Última Ceia.

O suicídio de Judas está na raiz do lendário e inimaginável lugar onde ele perdeu as botas. Foram misturadas duas narrativas. O Evangelho de Mateus diz que, arrependido de ter traído Jesus, ele atirou as trinta moedas dentro do templo e saiu para enforcar-se. Os sacerdotes, porém, deliberaram tirar o dinheiro dali para não deixar no tesouro sagrado um preço de sangue. E com a quantia compraram um cemitério para os estrangeiros, desde então chamado “campo de sangue”.

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Os Atos dos Apóstolos descrevem o fim do traidor de outro modo: “Ele comprou um campo com o salário da iniquidade, dependurou-se e seu corpo caiu arrebentado pelo meio, tendo suas vísceras se espalhado sobre o chão”.

Narrativas posteriores disseram que Judas enforcou-se em galho de árvore à beira de um precipício e dali despencou. Quer dizer, não foram apenas as botas de Judas que jamais foram encontradas. Também seu corpo perdeu-se ali.

As botas de Judas nunca foram encontradas e o lugar onde ele as perdeu tornou-se sinônimo de região inacessível. Só se sabe que a localidade, conhecida também por cafundó de judas, fica perto de onde o vento faz a curva, no meio do nada.

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