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Deonísio da Silva: Nunca tantos emprenharam pelos ouvidos

Nunca o barco chamado Brasil precisou tanto de um Ulisses no comando

Por Augusto Nunes Atualizado em 18 jun 2017, 11h23 - Publicado em 18 jun 2017, 11h23
(Reprodução/Reprodução)

A fofoca tem três lados bonitos: a pessoa não fala de si mesma, por modéstia; está preocupada com a vida da outra, por altruísmo; e só fala pelas costas, pois seria uma indelicadeza dizer o que diz, que às vezes é muito rude, na frente daqueles a quem critica. Prefere, então, falar pelas costas.

Fofocas, celeumas e polêmicas são inerentes à vida democrática. Proibi-las, além de tarefa inócua, seria uma insensatez. Mas é preciso tomar cuidado e proteger-se das devastações que podem causar.

Polêmica tem origem no Grego pólemos, guerra. Foi palavra que migrou do campo de batalha para os parlamentos.

Igualmente do Grego veio celeuma, de kéleuma, o canto cadenciado do chefe dos remadores com o fim de fazer com que todos unificassem o movimento dos remos para o navio avançar.

Já fofoca, de origem controversa, deriva do Quimbundo fuka, remexer, repetindo-se a primeira sílaba alterada de “fu” para “fo”, com provável influência do Banto, e equivale ao Inglês gossip, mexerico.

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Só que gossip é de origem religiosa, pois teria o significado de God-sib, a Deus confiado, expressão nascida ao redor de pias batismais, em cerimônias de casamento, em funerais etc., locais propícios a fofocas, como se sabe.

Já o Francês foutriquet, de foutre, do Latim clássico futuere pelo Latim vulgar futere, deu futriqueiro no Português, mas o étimo é o verbo que se tornou o conhecido palavrão para designar o ato sexual, mudado para o eufemismo “fazer amor.”

No canto XII da Odisseia, obra construída oralmente e que foi fixada na escrita por volta do século VIII a.C., Homero conta-nos que para evitar o naufrágio do navio, quando navegava nas proximidades da ilha de Capri, Ulisses tomou duas providências: tapar os ouvidos dos marinheiros com cera e amarrar-se ao mastro da embarcação.

O comandante sabia que o canto das sereias poderia levar o barco de encontro aos rochedos e matar a todos. Ou ainda que, carentes da presença feminina, tanto tempo já no mar sem suas amadas, os marinheiros confundiriam o sibilar dos ventos costeiros com murmúrios amorosos femininos e se lançariam ao mar à procura daqueles sons, morrendo do mesmo modo.

Nós vivemos o reinado das sereias, de seus cantos e de seus feitiços.. Elas são belas, conquanto tenham rabo de peixe, mas fazem um serviço trágico: enfeitiçam aqueles que as ouvem, levando-os à tragédia.

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Nunca o barco chamado Brasil precisou tanto de um Ulisses no comando. Pois nunca houve tantos emprenhando o povo pelos ouvidos, uma expressão nascida na Idade Média, quando um arcebispo de Constantinopla, chamado Proclus, fez um sermão em que defendia que Nossa Senhora tinha sido emprenhada pelos ouvidos, ao receber do anjo Gabriel a notícia de que estava grávida do Altíssimo.

Devido a esta crença, imagens cristãs de Nossa Senhora representam a mãe Deus com o ouvido em forma de útero, em cujo interior cresce um bebê.

Em Brasília, cresce um estranho bebê: o país estava melhorando seus índices econômicos quando, de repente, dia sim, dia também, uma fofoca varre todo o território nacional dando conta de que nada vai dar certo.

É um fenômeno muito estranho!

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