Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Deonísio da Silva: Mais vale um gosto do que seis vinténs

No berço da expressão está o preço de quatro vinténs para a caixa de açúcar, fixado pelo rei português Dom João V

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h48 - Publicado em 6 ago 2017, 11h21
(Reprodução/Reprodução)

Este gosto recebeu um imposto de 50% no provérbio depois do sucesso extraordinário que fez no Brasil o livro Um gosto e seis vinténs, de Somerset Maugham.

No berço da expressão está o preço de quatro vinténs para a caixa de açúcar, fixado pelo rei português Dom João V. O povo passou a dizer que não adiantava vender o açúcar, era melhor comê-lo: “Mais vale um gosto do que quatro vinténs”. Depois foi acrescentando “no bolso”, por melhor memorização, bolso soando parecido com gosto.

“Que um fraco rei faz fraca a forte gente”, o grande Camões, que no Brasil sempre fez sucesso e é até nome de bife, já tinha lembrado no século anterior.

O monarca lusitano, entretanto, tornou-se forte com o dinheiro arrecadado no Brasil e reinou por 46 anos. Cobrou muitos impostos e taxas ao longo da vida, com o fim de apaziguar a aristocracia ao redor, sem controle de gastos de nenhuma espécie. Na época, quem mais pagou o pato foi o povo de Pernambuco.

Continua após a publicidade

Um gosto e seis vinténs, de Somerset Maugham, teve várias edições no Brasil, depois que a Editora Globo, quando dirigida por Henrique Bertaso, lançou a primeira edição. Maugham trocou cartas com Bertaso para desculpar-se de alguns entreveros sobre direitos autorais.

Órfão desde os dez anos, Somerset Maugham foi enviado à Inglaterra e educado pelo tio, vigário em Whitestable, e por isso escrevia em inglês. Seguindo as orientações do tutor, formou-se em Medicina aos 23 anos, mas o sucesso literário desde os primeiros títulos levou-o a dedicar-se inteiramente às letras. Ele morreu em 1965, aos 91 anos.

Nos anos 70, a Editora Abril lançou a coleção Imortais da Literatura Universal, com 50 volumes, um grande sucesso editorial, e entre os destaques estava outro título de Maugham muito lido no Brasil, A Servidão Humana.

Aliás, a coleção desmentiu a ideia de que literatura de qualidade não vende. Vende e bem, quando encontra os leitores. E, no caso, o encontro era nas bancas de revista. Maugham, Dostoiévski, Flaubert e Boccaccio chegaram a vender mais de 300.000 exemplares. O número 50 era Ficções, de um argentino chamado Jorge Luís Borges, que se tornaria o fascinante personagem Jorge de Burgos de Umberto Eco em O nome da rosa, em 1980.

Continua após a publicidade

O tradutor do livro de Borges na coleção da Abril era um jovem poeta gaúcho de apenas 30 anos, que em 2017 é o candidato brasileiro ao Prêmio Nobel. Seu nome: Carlos Nejar.

São insuficientemente vistos e estudados no Brasil certos vínculos muito bonitos entre os escritores e seu povo. Castro Alves abraçou a Abolição. Monteiro Lobato defendeu o petróleo, o combate à pobreza e não migalhas aos pobres, mas educação e leitura para eles, de que são exemplos iniciativas como o famoso Almanaque do Jeca Tatu, distribuído nas farmácias de graça, junto com o medicamento Biotônico Fontoura. Todos os citados tiveram seus livros constantemente reeditados. E seus editores, mais do que livros, produziram também muitos leitores.

Agora que está no outono da existência, o procurador de justiça (aposentado) Carlos Nejar acresceu mais um feito à sua biografia de tantos lances marcantes : fez do poema A vida de um rio morto: monumento ao Rio Doce (Editora Ibis Libris) um brado retumbante contra a má administração e a imprevidência que resultaram no pavoroso desastre de que foram vítimas o povo e um rio referencial da terra que os brasileiros habitam.

Mais vale um gosto, mais vale um rio, do que vinténs ou bilhões no bolso ou na conta.

Continua após a publicidade

Confira aqui outros textos de Deonísio da Silva

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.