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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Sobre Trump: depoimento (exclusivo) de engenheiro do Facebook

A pedido de advogados da empresa, o funcionário, iraquiano, teve de encurtar uma viagem ao Canadá e voltar rápido aos EUA -- mesmo assim, foi interrogado

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 21h03 - Publicado em 2 fev 2017, 08h00

Escrevi antes, neste blog, sobre como o Vale do Silício está encarando o presidente Trump (confira aqui e aqui), em especial frente às novas políticas anti-imigração dos EUA. Quer saber mais disso? Clique nos links acima. Agora, volto ao assunto, mas com uma abordagem diferente para o formato deste blog. Em depoimento à repórter Jennifer Ann Thomas, da editoria de Ciência e Tecnologia, da qual sou editor, o engenheiro iraquiano Murtadha Al-Tameemi, funcionário do Facebook e residente dos EUA, conta como tem sofrido diante do novo cenário americano. Al-Tameemi é considerado um talento dentro da empresa e relata que teve, do dia para a noite, sua vida pessoal e profissional comprometida pelas ações do governo. Confira, na íntegra:

“Tenho 24 anos, sou de Bagdá, capital do Iraque, e vim para os Estados Unidos pela primeira vez durante o ensino médio, em 2007, por meio de um programa de intercâmbio financiado pelo governo americano. A ideia era, justamente, a de receber alunos de países muçulmanos, com o intuito de quebrar estereótipos racistas, frutos da islamofobia nascida após os fatídicos atentados de 11 de setembro de 2001. Milhares de estudantes já vieram para os EUA por meio desse programa.

Então, na terça-feira passada, dia 24, após as novas ordens executivas do presidente Donald Trump, recebi um telefonema inesperado dos advogados de imigração do Facebook, empresa para a qual eu trabalho como engenheiro de software no projeto Internet.org. A orientação que me passaram foi a de que eu deveria embarcar no primeiro voo de volta para cá (EUA). Moro em Seattle e estava em Vancouver, no Canadá, onde minha mãe e meus dois irmãos residem. Trata-se de uma distância de cerca de duas horas, mais ou menos, de avião.

Pelo ponto de vista pessoal, o problema imediato era o de que eu estava lá para assistir à primeira peça de teatro da qual o meu irmão mais novo, de 14 anos, faria parte. Esperei meses para compartilhar esse momento com a minha família, e estava muito orgulhoso do caçula. Logo, mesmo diante da pressa dos advogados do Facebook, decidi assistir à apresentação dele e embarcar no primeiro voo do dia seguinte, em 25 de janeiro. Para não correr o risco de ter de enfrentar a ordem assinada pelo atual presidente Donald Trump, impedindo a minha entrada nos EUA, cheguei cinco horas antes do meu voo, e ainda estava contando com o fuso horário a meu favor. Mesmo assim, ao chegar, fui para a famosa “salinha” da imigração, por onde já passei dezenas de vezes ao longo dos últimos dois anos, entre idas e vindas aos EUA. Às vezes eles só me fazem algumas perguntas, às vezes olham os meus e-mails e a minha mala. Nunca passei pela mesma situação no Canadá. No país vizinho, em alguns momentos até me puxam de canto, mas não com a mesma frequência e rudeza com que ocorre nos EUA.

Conheço pessoas que moram aqui há um tempo e se sentem inseguras, não sabem se poderão ter uma vida estável daqui para frente. Tanto para mim quanto para qualquer indivíduo de origem árabe, viajar não é mais uma possibilidade se quisermos voltar para os EUA depois. Não se trata mais do que queremos fazer, ou não, ao sairmos (ou regressarmos) do país. Simplesmente somos excluídos. Por efeito de como e de onde nascemos.

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A minha condição para permanecer nos EUA é com um visto de trabalho e a minha família sempre pôde me visitar com o visto de turismo. Agora, a impossibilidade de tirar férias ou passear é o menor dos problemas, destaco. Daqui em diante, a pior parte é não saber quando poderei ver minha família novamente. Junto a isso, também estou impedido de fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Em função do Internet.org, eu nem deveria estar nos EUA nesta semana. Estou perdendo uma reunião na África, na qual conversaria com parceiros e outros funcionários do mesmo projeto. Portanto, perde-se em aprendizado, em conhecimento e na qualidade do trabalho. Isso trabalhando para uma grande empresa americana.

Depois que me manifestei sobre o que aconteceu na semana passada, em meu perfil no Facebook, também recebi comentários raivosos nas redes sociais. Mas, pelo menos, eles ficam restritos às caixas de comentários. Apesar de tudo, as pessoas com quem interajo com frequência, com quem converso, têm sido muito bondosas e generosas comigo. No cenário geral, sinto-me desencorajado e pouco bem-vindo por aqui (EUA). Contudo, ao mesmo tempo, tenho recebido muito amor e carinho de quem é próximo de mim, inclusive de amigos americanos. O que me lembra de que a situação é, espero, temporária. E que, principalmente, não reflete o sentimento de todos no país.”

Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, e no Facebook.

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