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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Apoiar Trump: no Vale do Silício, ruim para os negócios

Quem está com o novo presidente começa a ganhar repulsa na indústria da tecnologia. Já quem vai contra, como Sergey Brin, do Google, recebe apoio

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 21h03 - Publicado em 31 jan 2017, 18h13

No sábado, publiquei neste espaço um texto sobre como o Vale do Silício, ou, em sentido mais amplo, a indústria americana de tecnologia, está desafiando o presidente americano Donald Trump (novamente, não consigo escrever seu nome sem lembrar de Donald Duck). Desde então, a situação se agravou. Para Trump. E no Vale do Silício.

A começar, pelo o que é dito no título deste post.

Após a eleição de Trump, o Vale do Silício californiano parecia dividido. Alguns, a exemplo de Elon Musk – icônico empreendedor por trás, dentre outras, da Tesla (carros elétricos) e da SpaceX (exploração espacial) –, Travis Kalanick – fundador do Uber – e Ginni Rometty – CEO da IBM –, demonstraram que queriam trabalhar com o presidente eleito. Tanto que os três citados aceitaram convites para serem membros do conselho de negócios de Trump. Em dezembro, diversas figuras ilustres do ramo da tecnologia, incluindo uns que eram opositores ao agora presidente americano, se reuniram com ele, na icônica Trump Tower de Nova York, para debater política. Dentre eles estava Tim Cook, CEO da Apple e conhecido por ter ideias liberais contrárias ao do republicano.

Em suma, se antes da eleição o clima geral no Vale do Silício era de “Trump nem tem chance de ganhar”, depois da vitória a postura mudou para “Ok, então vejamos como podemos trabalhar juntos com o novo titular da Casa Branca”. Prova disso é que, segundo relatos de funcionários do Uber, o Travis Kalanick pré-eleição tirava sarro de Trump em reuniões. O pós decidiu se unir ao conselho do agora todo-poderoso.

Mas todo esse clima mudou, completamente, desde a semana passada. Em especial diante das novas políticas de imigração dos EUA.

O Vale do Silício caiu em cima de Trump. Facebook, Google e o próprio Musk, em teoria um “apoiador” do novo governo, se pronunciaram contra a proibição da entrada de cidadãos sírios, iraquianos, iranianos, líbios, somalis, sudaneses e iemenitas. Isso porque, centenas de funcionários das empresas de tecnologia foram afetados pela medida.

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Um engenheiro do Facebook, por exemplo, relatou que a empresa o convocou a voltar de uma viagem ao Canadá, o mais rápido, para que ele garantisse seu regresso. Uma empregada do Google iraniana, grávida de 37 semanas (e dona de um green card!; em tempo — por uma falha de revisão, na primeira versão deste texto havia trocado “semanas” por “meses”, o que estava, pelo óbvio, errado), relatou que seus pais, ainda residentes no Irã, estão impedidos de viajar para ver o neto que deve nascer em breve. Ainda no Google, muitos funcionários tiveram de deixar compromissos no exterior de lado – mesmo viagens por motivos profissionais – para garantir permanência em território americano. Em teoria, todos os trabalhadores que são das nacionalidades discriminadas se encontram, agora, do dia para a noite, em situação ilegal. Mesmo que muitos deles tenham residência própria, investimentos, família etc. nos EUA.

E quem do Vale do Silício se manteve a favor do Trump, mesmo assim? Corre o risco de ver até seus negócios afetados. Tomemos o caso de Kalanick, do Uber, como exemplo. Enquanto Sergey Brin, cofundador do Google, se uniu aos manifestantes que protestavam contra Trump no aeroporto de São Francisco, o Uber aproveitou uma greve de taxistas nova-iorquinos (iniciada pelo mesmo motivo) para anunciar que diminuiria, naquele momento, suas tarifas para quem encomendasse um carro no aeroporto JFK. A jogada de negócios não foi bem-recebida por aqueles que a viram como desrespeitosa para com os manifestantes.

Hoje, vazou que Kalanick enviou a funcionários um e-mail sobre o assunto, constatando que continuará a trabalhar ao lado do presidente. A postura de Kalanick, contudo, não pegou bem nem entre os seus. Dentro da própria empresa, o CTO do Uber, um vietnamita que se refugiou nos EUA durante a infância, enviou um e-mail interno se pronunciando contra as ações de Trump. Fora de sua empresa, então, Kalanick passou a ser execrado. Hoje, manifestantes, muitos dos quais empregados do setor, se acumularam em frente à sede do Uber. Do outro lado, aqueles que se opuseram ao presidente acabaram por ganhar status de “heróis” no Vale. Caso de Brin, do Google, fotografado por manifestantes, idolatrado em redes sociais e que, segundo ele próprio, estava enfrentando Trump por que, afinal, já “fora um refugiado” (da ex-União Soviética).

A peleja tem contabilizado consequências diretas nos negócios. A hashtag #deletuber se espalhou pela internet, principalmente via Twitter, propondo um boicote ao popular app de motoristas. Em Nova York, são vários os relatos de indivíduos que escolheram excluir o Uber de suas vidas. A empresa não revelou os números do estrago. Entretanto, deve ter sido significativo. Ao ponto de Kalanick ter também prometido que, até sexta desta semana, no máximo, se pronunciará oficialmente acerca da nova política nacional contra imigrantes.

Trata-se, como destaquei no post anterior, apenas do começo dessa briga. O Vale, que parecia disposto a conversar com calma com Trump, agora se irritou. É pouco diante do presidente americano? Nada disso. Pois saiba que o estado da Califórnia, onde está o Vale, conta com mais bilionários que qualquer outro país do mundo, sem ser os EUA (somando o próprio Vale) e a China. Seis dos americanos mais ricos são ligados à indústria da tecnologia – incluindo os dois líderes do ranking, Bill Gates (Microsoft) e Jeff Bezos (Amazon). Brin, por exemplo, que compareceu aos protestos de São Francisco, figura em décimo, com quase 38 bilhões de dólares de patrimônio.

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Logo, não se engane, a briga será entre iguais. Não necessariamente com a balança do poder sempre pendendo para o lado do presidente dos EUA.

*

Adendo: no Facebook, leitores me desafiaram a mostrar ao menos um indivíduo com origem nos países descriminados que tenha contribuído para o desenvolvimento do Vale do Silício americano. Na mão: Steve Jobs, o icônico (para não dizer lendário) criador da Apple, cujo pai era um imigrante sírio.
Além disso, teve gente que clamou que as nações ojerizadas por Trump nunca contribuíram para o progresso da ciência, da tecnologia e afins. Sobre isso, desculpe-me, não me alongarei. Vale ler os livros de história, em especial os sobre matemática, astrofísica, engenharia…

Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, e no Facebook.

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