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Spotlight: o jornalismo investigativo não acabou

Fui assistir recentemente a Spotlight, indicado para o Oscar deste ano em seis categorias, menos pelo interesse no filme em si do que pela curiosidade em entender a razão pela qual tanta gente saiu do cinema acometida pela nostalgia, lamentando o suposto fim do jornalismo investigativo. “Bons tempos em que as redações podiam se dedicar a […]

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 23h34 - Publicado em 6 fev 2016, 06h58
Spotlight

Cena de ‘Spotlight’, que concorre ao Oscar em seis categorias, inclusive melhor filme (Divulgação/Veja.com)

Fui assistir recentemente a Spotlight, indicado para o Oscar deste ano em seis categorias, menos pelo interesse no filme em si do que pela curiosidade em entender a razão pela qual tanta gente saiu do cinema acometida pela nostalgia, lamentando o suposto fim do jornalismo investigativo. “Bons tempos em que as redações podiam se dedicar a reportagens de fôlego como a que o filme retrata” — li, com incredulidade, frases como esta em críticas na internet e em posts do Facebook, muitos escritos por colegas jornalistas. A história da investigação feita por repórteres do jornal americano The Boston Globe narrada no filme é realmente empolgante. Acho que até quem não é do ramo fica com vontade de sair por aí desbaratando redes de padres pedófilos. E é compreensível que os colegas que estão fora do mercado tenham sentido saudades dos tempos de redação.

Eu mesmo relembrei as minhas próprias reportagens sobre os abusos sexuais de menores na Igreja americana e as entrevistas que fiz com advogados, vítimas, padres e especialistas no assunto (dois desses textos podem ser lidos aqui e aqui).

Saudades, sim. O saudosismo, porém, não se justifica. O jornalismo investigativo está mais vivo do que nunca.

A história contada em Spotlight é recente. Passa-se em 2001, quando uma equipe do Boston Globe começou a puxar os fios da conivência da cúpula da Igreja com os abusos sexuais cometidos por padres. O trabalho durou meses e, na fase retratada no filme, envolveu diretamente quatro jornalistas. “Ninguém mais investe tanto tempo e mão-de-obra em um reportagem”, foi um dos comentários que ouvi por aí. Falso. A própria Spotlight, a editoria especializada em jornalismo investigativo do Boston Globe que é retratada no filme, continua existindo, e hoje é composta de sete, não apenas quatro, jornalistas. Um dos que continuam atuantes na editoria é Michael Rezendes, vivido na película por Mark Ruffalo (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel).

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Evidentemente, muitos jornais, inclusive no Brasil, cortaram suas equipes e reduziram o tempo que seus repórteres podem se dedicar a apurações que jogam o holofote (“spotlight”, em inglês) sobre fatos ocultos de interesse público. Mas isso é compensado por uma ferramenta que, paradoxalmente, costuma ser apontada como a responsável pela “morte” do jornalismo investigativo: a internet.

As facilidades da internet dão rapidez e reduzem o custo das reportagens investigativas. Em entrevista a Sarah Larson, da revista New Yorker, Walter Robinson (interpretado por Michael Keaton no filme) fala da dificuldade que os jornalistas tinham, no início da década passada, de reunir amplos conhecimento sobre determinado assunto. “Naqueles dias, se houvesse um caso (de abuso sexual) em Nova Orleans e outro em Dallas, a não ser que o New York Times ou a New Yorker ou a CBS News tivessem divulgado o fato nacionalmente, como seria possível para nós tomar conhecimento deles?” Essa sensação de isolamento desapareceu com a internet. Hoje, com uma simples busca no Google ou nos bancos de dados online das publicações é possível ligar acontecimentos aparentemente desconexos e ter uma noção geral sobre os antecedentes de certo fenômeno para se começar uma investigação profunda sobre determinado assunto. Sugiro esse exercício a quem pretende assistir ao filme: diante das dificuldades que os personagens de Spotlight enfrentam para conseguir as informações, tente imaginar como um jornalista faria para obtê-las hoje, com a ajuda da internet. Um exemplo: há uma cena em que Rezendes pega um avião só para xerocar alguns documentos em um cartório. Atualmente, em muitos casos é possível acessá-los pela internet.

Para quem ainda acha que o jornalismo investigativo está definhando, sugiro que atente para grandes trabalhos de reportagem que estão sendo realizados por veículos de comunicação no Brasil e no mundo — inclusive por títulos que existem exclusivamente na internet. Não preciso falar aqui das revelações sobre corrupção feitas por meus colegas de VEJA e que dominam o noticiário nacional. Para ficar apenas com exemplos internacionais, há o trabalho corajoso de jornalistas mexicanos que escarafuncham os vínculos entre o narcotráfico e as autoridades, apesar do risco de serem mortos por isso. Na Rússia, apesar da perseguição aos jornalistas, também não faltam aqueles que se dedicam a expor os podres do poder. Na Alemanha, o esforço de publicações como a revista Der Spiegel tem sido o de revelar as maracutaias dos cartolas do futebol na esteira do escândalo da Fifa — sim, até lá isso acontece.

Como observa Peter Preston neste artigo no jornal britânico The Guardian, “o termo ‘jornalismo investigativo’ descreve maneiras e meios, não assuntos”. O que não falta no mundo são temas para serem investigados. E, enquanto houver gente interessada em saber sobre eles, existirá quem se dedique a desencavá-los.

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