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Dois dias escondida sob o corpo da mãe morta

Reportagem da CNN mostra menina iraquiana que sobreviveu à execução de civis cometida por terroristas do Estado Islâmico em Mossul

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jul 2017, 19h31 - Publicado em 11 jun 2017, 06h43
Menina sob o manto
No destaque à esquerda, menina iraquiana ao lado do corpo da mãe, assassinada pelo EI em Mossul (CNN/Reprodução)

Já dura nove meses a batalha por Mossul, a tentativa de retomar a cidade iraquiana das mãos do grupo terrorista Estado Islâmico (EI ou Isis). Desde o início, a maior dificuldade era vencer os islamistas e, ao mesmo tempo, proteger a população civil que ficou presa no meio do fogo cruzado. Já se sabia, porém, que quanto mais encurralado os terroristas estivessem, mais os moradores iriam sofrer. Agora que a queda dessa que é uma das duas capitais do EI (a outra é Raqqa, na Síria) é dada como iminente, as histórias estarrecedoras de maldades e extermínio da população se tornaram mais frequentes.

O canal de notícias CNN trouxe, esta semana, uma dessas histórias. A reportagem, feita pela repórter Arwa Damon, que pode ser assistida neste link (em inglês), mostra cidadãos cruzando a linha de frente após escapar do último bairro da cidade ainda sob controle do EI. Nem todos têm essa sorte. Segundo as Nações Unidas, 231 civis foram assassinados pelos terroristas nas últimas duas semanas ao tentar fugir das áreas que o grupo ainda domina. O vídeo da CNN também mostra imagens aéreas das ruas do centro de Mossul cobertas por corpos de civis fuzilados. Os fundamentalistas do EI não distinguem entre homens, mulheres, velhos ou crianças. A mensagem é clara: quem fugir não será o único a morrer; sua família também sofrerá o mesmo destino.

O trecho mais impressionante da reportagem mostra uma menina e um homem sendo resgatados do meio de um amontoado de cadáveres. Eles haviam sobrevivido ao massacre, e fingiram-se de mortos. Durante dois dias, ficaram deitados, sem se mexer, sem comer e sem água, pois os terroristas ainda estavam muito próximos, ao alcance de um tiro de fuzil. A liberdade estava a apenas 150 metros de distância, mas para alcançá-la teriam que se expor aos franco-atiradores do EI, muitos dos quais são islamistas chechenos com intenso treinamento militar. A menina, que aparenta ter 5 ou 6 anos, ficou escondida sob o chador (pano que algumas mulheres muçulmanas usam para cobrir o corpo) da mãe morta.

David Eubank, voluntário americano que é líder de um grupo de resgate humanitário chamado Free Burma Rangers, aparece cruzando a linha de tiro, enquanto os companheiros lhe dão cobertura, para resgatar a menina. Eubank é um ex-oficial das forças especiais americanas que, movido pela fé cristã, decidiu criar um grupo voluntário para ajudar civis em zonas de conflito. Seu grupo atua em Mianmar, no Sudão e no Iraque.

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A expressão de terror e sofrimento no rosto da menina, tão logo Eubank consegue trazê-la para trás de um veículo blindado, é de arrepiar. A reportagem da CNN não conseguiu identificar o nome, nem a idade da menina. É possível que ela tenha perdido toda a família.

O fotógrafo brasileiro André Liohn está em Mossul e confirma que os civis estão vivendo a pior parte da batalha: “Eles estão sendo usados como escudo humano pelo Estado Islâmico, por isso não podem sair das áreas de combate.”

Quando a batalha por Mossul terminar, o desafio será juntar os fragmentos de uma comunidade destroçada e traumatizada. A chance de que ela se torne presa de outros grupos com interesses pouco nobres é grande, como ocorreu com Omaran Daqneesh, mais conhecido como o “menino da ambulância”, em Alepo, na Síria. Omaran foi ferido e perdeu o irmão em um bombardeio de forças ligadas ao ditador Bashar Al Assad. Agora que Alepo está sob controle de Assad, Omaran e seu pai apareceram em entrevistas de canais de TV da Síria, do Líbano e da Rússia — claramente servindo aos propósitos de propaganda do mesmo regime que vitimou sua família.

A imoralidade em tempos de guerra não tem limites.

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Omran Daqneesh
Omran Daqneesh na ambulância, em 2016, e, na semana passada, em entrevista na TV (Aleppo Media Centre/Twitter)

 

 

 

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