7 descobertas de um jornalista infiltrado numa célula terrorista
Muitos leitores devem se perguntar se os radicais islâmicos presos no Brasil no último dia 21 representavam uma ameaça real. Dá para chamar o grupo que se comunicava por Whatsapp e outras redes sociais de célula terrorista? O que há por trás do “amadorismo” e da “porralouquice” dos extremistas, para usar termos usados pelos ministros […]
Muitos leitores devem se perguntar se os radicais islâmicos presos no Brasil no último dia 21 representavam uma ameaça real. Dá para chamar o grupo que se comunicava por Whatsapp e outras redes sociais de célula terrorista? O que há por trás do “amadorismo” e da “porralouquice” dos extremistas, para usar termos usados pelos ministros da Justiça e da Defesa brasileiros? Uma forma de responder a essas perguntas é buscar casos semelhantes em países que já sofreram diversos ataques terroristas, e que estão atentos para esse tipo de ameaça.
Um exemplo interessante é o do grupo de radicais franceses retratados em um documentário da TV francesa Canal +, que foi ao ar em maio passado. Um jornalista francês, muçulmano e descendente de imigrantes do Norte da África, infiltrou-se no grupo durante seis meses e filmou os encontros com os radicais usando uma câmera escondida. (O repórter assinou a reportagem com o pseudônimo Said Ramzi, para evitar retaliações.) Algumas de suas principais descobertas:
1) O grupo era composto por dez pessoas, muitos deles com histórico complicado de delinquência (um número e um perfil semelhante ao do caso brasileiro);
2) A vinculação deles com a religião islâmica não era das mais profundas. Basicamente, eram jovens desajustados, com tendências suicidas e incapazes de canalizar suas frustrações para algo transformador, positivo;
3) Os integrantes da rede usavam aplicativos de troca de mensagens como Telegram e encontravam-se em parques para falar de como seria bom cometer atentados e matar gente inocente (os brasileiros também usavam aplicativos de troca de mensagens por celular, mas não chegaram a se reunir pessoalmente);
4) O discurso de ódio dos radicais franceses com os quais o jornalista se encontrava é muito parecido com o que os brasileiros destilavam na internet. Coisas como “os franceses precisam morrer aos milhares” e “um mártir não sofre com a dor”;
5) Apesar de discutir diversas ideias de como e onde cometer um ataque terrorista, eles aparentemente nunca chegaram a possuir armas ou explosivos (no caso brasileiro, o máximo de iniciativa que conseguiram ter foi buscar informações de como comprar um fuzil no Paraguai);
6) O jornalista, no entanto, começou a ser cooptado por terroristas mais profissionais, e chegou a receber orientações por Telegram de como preparar explosivos e fazer uma carro-bomba. Além disso, foi orientado a se dirigir a uma estação de trem, onde uma mulher com véu lhe entregou orientações para um atentado em uma casa noturna (os brasileiros, segundo foi divulgado, só tiveram contato por internet com membros do Estado Islâmico, e não há informações de que tivessem recebido ordens específicas para ataques);
7) O grupo vinha sendo monitorado pelo serviço de inteligência francês e Ossama e outros integrantes acabaram presos entre dezembro de 2015 e janeiro deste ano. O jornalista infiltrado, que tem 29 anos e é da mesma geração de jovens muçulmanos franceses à qual pertencem os terroristas que cometeram os atentados de novembro do ano passado em Paris, caiu fora a tempo.
Conclusão: o fato de serem amadores e mais afeitos a bravatas do que à ação não significa que extremistas como os retratados no documentário francês, assim como os que foram detidos no Brasil, não sejam perigosos.
A decisão da Justiça brasileira de mandar detê-los para prevenir um atentado está de acordo com a prática internacional de contraterrorismo.
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